quarta-feira, 21 de julho de 2010

Curiosa loucura


A história contada a seguir é verídica apesar de parecer uma comédia um tanto quanto inusitada.
Durante alguns meses eu e uma amiga minha estudamos todos os dias para nos prepararmos para um concurso público. No começo estudávamos em nossas casas mas posteriormente sentimos necessidade de utilizar livros mais específicos para certos assuntos já que não pudemos pagar por apostilas apropriadas e, também, nem sempre tínhamos um ambiente adequado para estudar, muitas vezes o barulho atrapalhava. Então decidimos estudar todos os dias numa certa biblioteca pública, afinal biblioteca é uma fonte de conhecimento e silêncio, o lugar ideal para estudantes. Lá teríamos acesso a diversos livros e também a paz que tanto necessitávamos. Porém nem tudo são flores... Começamos a frequentar, então, a biblioteca. Pensávamos que se chegássemos cedo pegaríamos os melhores lugares, nos preocupávamos com isso pois a biblioteca era muito pequena, e tinham apenas três mesas e algumas cadeiras. Para a nossa surpresa, haviam muitos idosos lendo jornais e ocupando o maior espaço, mesmo assim conseguimos encontrar um lugarzinho ao fundo da biblioteca. Estudamos por vários dias sempre limitadas no espaço. Até aí tudo bem. Certo dia estávamos estudando matemática e uma senhora sentou-se na mesma mesa conosco. Ela era um pouco estranha... descabelada, cabelos descoloridos e um pouco grisalhos, com roupas esfarrapadas, uns colares chamativos, unhas grandes e mal cuidadas, de óculos e bem magra. Me parecia uma mendiga, mas segurava uma bolsa grande e vários livros! Tinha me chamado atenção a aparência desta senhora mas continuei concentrada nos meus estudos. Até que ela começou a falar... mas não tinha ninguém com ela, e ela estava olhando pra parede! E ela conversava baixinho e ria, como se tivesse falando com alguém. Então lia algumas palavras de um dos vários livros que estavam com ela e intercalava com sua conversa misteriosa. Isso me deixou curiosa. E eu tentava disfarçar pra ela não perceber que eu estava observando-a, o que era difícil pois ela estava sentada na mesma mesa e bem na minha frente. Ela ria muito! E eu fiquei me perguntando: como ninguém reclama? Eu e minha amiga, vendo aquela cena estranha, tentávamos segurar o riso... E durante muitos dias ela fez o mesmo! Mas nunca sabíamos o que ela dizia... Como se não bastasse num outro dia, fim de tarde, estávamos tentando resolver uma questão, mas não estávamos entendendo... E ficamos presa na dúvida durante muitas horas! Até que um senhor que estava sentado numa 'mesa vizinha' disse: a página 3 é o caminho! Naquele momento olhamos uma pra outra e mais uma vez tentamos segurar o riso. Não entendemos mas já estávamos concluindo que ali se aglomeravam pessoas que estudam muito o dia inteiro e talvez a loucura esteja ligada à estudiosos. Foi o ocorrido mais esquisito.
E por fim, num dia qualquer de estudos, um homem que devia ter em torno de 40 anos de idade, se aproximou da nossa mesa carregando muitas coisas, uma pasta, muitos papéis e uma mochila, ele sentou-se e colocou todas as suas coisas bagunçadas na mesa ocupando a maior parte do espaço inclusive o espaço que estávamos usando. A pasta em cima dos nossos cadernos e tudo mais. E se comportou como se ninguém mais estivesse ali. Obviamente não gostamos de tal atitude, mas não demos audiência e continuamos a estudar. Até que ele pegou aquela papelada e começou a ler em voz alta, e ficava falando sobre leis ou algo assim... E anotava muitas coisas. Ele não apenas sussurrava, mas falava alto, como se estivesse conversando... E isso estava nos atrapalhando. Então começamos a falar baixinho a respeito de uma questão que uma de nós não estava entendendo. E o rapaz fez um som como se estivesse pedindo silêncio: shiiiii! Mas não tirou os olhos das papeladas e nem parou de falar alto. Olhamos uma pra outra e fizemos aquela cara de abismadas. Como que ele está exigindo silêncio de nós se ele está fazendo muito mais barulho que nem conseguimos ouvir nossos pensamentos? que absurdo! Continuamos balbuciando para não atrapalhar os outros, mas ele continuava falando alto e fazendo 'shiiii' foi uma cena muito inconveniente. No mesmo dia, um senhor se aproximou e mostrou-nos uma revista que tinha uma reportagem que falava sobre um acordo entre Brasil e África, ele apenas colocou a revista sobre a mesa apontou e foi embora. Não entendemos mais uma vez e continuamos nossos estudos. O assustador é que na prova que fizemos, havia uma questão sobre um acordo entre Brasil e África.

Além de todos esses esquisitos acontecimentos, ocorreram outros diversos. E o curioso é que nesta biblioteca existem uma variedade de pessoas com alguns hábitos esquisitos que no começo eu tentei entender, mas me acostumei com o passar do tempo. E percebi também que as outras pessoas que frequentam esta biblioteca não ficaram abismados como eu e minha amiga, talvez porque já chegaram neste nível de não tentar mais entender. Até porque o que me parece, é que quem frequenta este lugar durante muito tempo acaba absorvendo algumas coisas. Eu sempre achei que os gênios e pessoas muito estudiosas perdiam um pouco a noção de realidade, Einstein não me deixa mentir.
Ou até mesmo Mozart, um grande gênio da música que conseguia compor suas fabulosas obras com o barulho da carroagem.
E Johann Sebastian Bach, outro grande músico que se inspirou no barulho que seus vários filhos faziam ao mesmo e transformou este caótico som em várias obras muito famosas e respeitadas. Músicas com muitas notas misturadas e rápidas como o som de várias crianças gritando. É loucura, mas é genial.
É interessante como isso acontece ao nosso redor ainda hoje, e não é notado.

Se a loucura não se aliasse, de certa forma, a inteligência... talvez os grandes gênios se limitariam a tentar fazer algo por medo de parecerem pessoas loucas, fora de si ou coisa parecida...
Estar preso ao racional o tempo todo, muitas vezes nos prende às aparências que queremos transmitir e não ao que queremos alcançar.

Lindsey Soren.

Um comentário:

ARAUTO das ARTES disse...

UAUUUUUUU A D O R E I... pronto agora vc é responsavel por mim, pois me cativaste... ANTONY EXUPERY em O PEQUENO PRINCIPE...